sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cântico IV - Cecília Meireles

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Clarice Lispector

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Se estou só, quero não estar,
se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
De maneira que não estou.

Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.

A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.

-Pessoa-

Alegria de Criança- Por William Blake



"Não tenho nome:
Só tenho dois dias."
Como te chamarei?
"Sou feliz,
Alegria é meu nome."
Doce alegria te ocorra!
Linda alegria!
Linda alegria de só dois dias,
Te chamo doce alegria:
Tu sorris,
Eu canto entretanto
Doce alegria te ocorra!